AAS – medicamento para todos?
- Dr. Agnaldo Rodrigues
- 16 de jul. de 2018
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O ácido acetilsalicílico, chamado abreviadamente de AAS, é um fármaco do grupo salicilato, presente no mercado desde 1899 sob o nome comercial de Aspirina®, da empresa alemã Bayer.
O AAS também pertence ao grupo dos anti-inflamatórios não esteroides (AINES), o mesmo dos famosos diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida e cetoprofeno.
Uma particularidade da Aspirina é o fato de que, dependendo da dose usada, seus efeitos são completamente diferentes. A partir da dose 500 mg, o AAS exerce seus efeitos anti-inflamatório, antipirético (contra febre) e analgésicos (contra a dor). Quando usado em doses mais baixas, 100 mg ou 200 mg, o AAS apresenta apenas um efeito de inibir a ação das plaquetas do sangue.
Efeito antiagregante do AAS
O AAS é hoje em dia muito mais usado como um antiagregante plaquetário do que como anti-inflamatório.
As plaquetas são as células do sangue responsáveis por iniciar o processo de coagulação.
A coagulação é um mecanismo de defesa do corpo para estacar sangramentos. Quando um vaso sofre alguma lesão um punhado de plaquetas se dirige ao local, agregando-se de modo a formar uma espécie de rede protetora, estancando o sangramento até a chegada dos fatores de coagulação que vão fazer o reparo definitivo da lesão. A perfeita função das plaquetas é, portanto, essencial para uma boa coagulação.
A Aspirina tem como um dos seus efeitos inibir essa agregação das plaquetas, tornando o processo inicial da coagulação mais difícil de ocorrer. Esse é o efeito conhecido popularmente por “afinar o sangue”.
Mas por que os médicos precisam afinar o sangue, isto é, inibir a agregação plaquetária em alguns doentes?
A trombose é basicamente uma coagulação anormal que ocorre dentro do vaso sanguíneo, impedindo o fluxo de sangue. Uma trombose dentro de uma coronária é uma causa do infarto do miocárdio, assim como uma trombose dentro de um vaso cerebral causa AVC. O uso contínuo de AAS dificulta a formação de coágulos, o que acaba também por dificultar a formação de trombos.
Portanto, o uso da Aspirina está indicado em todos os pacientes com risco elevado de desenvolver trombos.
O AAS é usado como antiagregante nas doses que variam entre 75 e 325 mg. Nos pacientes com elevado risco, mas que nunca tiveram um evento trombótico anterior, costumamos prescrever o AAS infantil, cuja dose é de 100 mg.
A aspirina é uma importante arma para evitar a trombose dos stents colocados em angioplastia das artérias coronárias. Normalmente ela é prescrita junto com outro antiagregante plaquetário como o clopidogrel, para potencializar a inibição das plaquetas.
Efeitos colaterais do AAS
Se o AAS diminui a incidência de tromboses, por que não usá-lo em todo mundo? Por causa dos seus efeitos colaterais. Assim como qualquer anti-inflamatório, o AAS apresenta como efeito colateral uma maior incidência de gastrites, úlceras gástricas e duodenais, e consequentemente, hemorragia digestiva. Quanto maior é a dose do AAS, maior é o risco de lesão gástrica: Todavia, mesmo doses baixas, como 80 mg, apresentam risco.
O AAS se liga às plaquetas de modo irreversível. Isto significa que aquelas plaquetas que sofreram ação da aspirina, não conseguirão nunca mais participar da coagulação. Portanto, o efeito antiagregante do AAS dura o tempo de vida das plaquetas que é de 5 a 10 dias, ou seja, o AAS tomado hoje fará efeito durante pelo menos 5 a 7 dias. Esta informação é importante para cirurgias ou qualquer outro evento potencialmente hemorrágico, quando uma perfeita coagulação é necessária para a segurança do procedimento.
A inibição da função das plaquetas também é responsável pela contraindicação do AAS na dengue ou qualquer outra doença que curse com plaquetas baixas como a púrpura trombocitopênica idiopática. Imaginem o estrago que pode acontecer quando um paciente que já tem poucas plaquetas e apresenta-se sob risco de sangramentos toma uma droga que atrapalha a função destas.
O seu uso só deve ser admitido quando os benefícios compensam os riscos, como, por exemplo, AAS em doses baixas em doentes com alto risco cardiovascular, ou seja, será fundamental uma avaliação especializada para definir se realmente existe a necessidade do uso crônico do AAS.

Dr. Agnaldo Rodrigues é médico pela Faculdade de Medicina de Petrópolis, tendo se especializado em cardiologia pelo Instituto Mário Penna, em Belo Horizonte, e em Ecocardiografia pelo Diagnósticos da América (DASA) e Escola de Imagem de São Paulo (UNIECO). Possui ainda título de especialização em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Seu consultório de cardiologia fica localizado na cidade de Itumbiara-GO, na rua João Manoel de Souza, 66 - sala 14, Centro,
CRM-GO: 14.541 | RQE nº 11.602
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